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   Crónica sem IVA 

 

Vai, por aí, um ruído enorme na classe política e nos media sobre quem será o salvador da pátria.
A crise caíu mesmo em cheio sobre a campanha presidencial que parece estar a passar ao lado da maior parte dos eleitores.
O cidadão comum, está mais preocupado com o orçamento familiar, com o deve e o haver, à semelhança do antigo merceeiro que não ganhando muito, conseguia sustentar a casa e dar educação aos filhos. É com um pequeno pecúlio que as famílias vão aguentar a crise, cujas consequências são mais visíveis pelo grande e crescente número de desempregados. Por quanto tempo mais?
Há quem, do alto da sua arrogante presciência, recorde o número de avisos feitos sobre o rumo da economia portuguesa, qual professor que, do alto da cátedra, repete conceitos da velha sebenta e recusa culpas pelo insucesso dos alunos.
Nenhuma novidade trouxeram, nos últimos dias, à opinião pública quer políticos, quer fazedores da informação. A não ser as tragédias imparáveis que vão devastando vidas e fazendas de países e regiões. São estas as terríveis “pestes, fomes e guerras” de hoje a que a solidariedade internacional não dá resposta. Veja-se o caso do Haiti, onde cerca de 800 mil pessoas, após o grande terramoto, ainda vivem em tendas e tardam em reconstituir suas vidas.
A crise, entre nós, está a ser encarada de formas diferentes.
Há empresas que anunciam o congelamento dos preços o ano inteiro, assumindo elas próprias o aumento do IVA; outras, reduzem os preços na mesma proporção do IVA; vendedores de automóveis, abdicando de parte das margens de lucro,  vendem viaturas novas a preços do ano passado. Todos eles alegam dificuldades, mas o certo é que há notícias de empresas de distribuição, cotadas em bolsa, com substanciais aumentos de vendas e de lucros. Só que, o consumismo em excesso, não será o caminho do futuro.
Em momentos difíceis, a criatividade suplanta a crise e a inovação abre novas e diferentes perspectivas ao desenvolvimento da humanidade.
O inovador sistema do micro-crédito começa a dar resultados palpáveis em países como a India e, entre nós, estão a ser dados passos importantes para alastrar os seus benefícios aos pequenos empreendedores.
Vai nesse sentido a futura economia, na senda aliás, dos ideais premonitórios defendidos pela Agenda 2000, propondo a valorização das dinâmicas do espaço rural que representa 90% do território da União Europeia a 27.
Quando a Agenda foi aprovada, houve grande contestação dos agricultores portugueses contra as medidas agro-ambientais e a mudança de filosofia relativamente à PAC que preconizou o aumento de produção. O sistema da policultura, com grandes vantagens para a fixação das populações nos espaços rurais, valorizando o ambiente, o património, o artesanato, o turismo, e proporcionando-lhes mais emprego e melhor qualidade de vida, foi silenciado por interesses económicos que provocaram excesso de produtos, baixa de preços e diminuição dos rendimentos dos agricultores.

O antigo Presidente da Câmara de Nova Iorque, numa conferência proferida em Lisboa, recomendava a Portugal uma aposta decidida no setor do turismo.
O mesmo se diga em relação aos Açores.
É perante um novo cenário que os Açores estão colocados. Há, no entanto, muitos responsáveis que não entendaram os novos caminhos do presente e do futuro.
É necessário que mudemos, rapidamente, ideias e programas que promovem o despovoamento das zonas rurais e a concentração em espaços urbanos. É um erro em que alguns autarcas e governantes estão a incorrer, esquecendo-se de que a centralização foi um dos paradigmas da sociedade industrial, em declínio.
É pelo ambiente e pela valorização de todo o espaço territorial que teremos mais benefícios e melhor qualidade de vida.

 

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